quarta-feira, 14 de março de 2012

Não vou falar

Foi na hora de vestir o pijama. Cacá comentou, do nada:
- Quando a pró brigou comigo eu tremi assim. - E juntou os bracinhos perto do corpo e tremeu o queixo.
- Porque a pró brigou com você, filho?
- Não vou falar.
- O que foi que ela falou com você?
- Não vou falar.
- Porque não?
- Porque você vai brigar comigo.
- Não vou, não. Só quero conversar. Quero saber o que aconteceu.
- Não vou falar.
- Mas filho, como vou poder ajudar, se não souber o que acontece na escola?
- Não vou falar. - Lágrimas nos olhos...
- Só vou falar: "Não faça mais isso, filho!"
- Você vai "me brigar".
E ficou nessa vida por três dias. Três dias. Fiquei preocupada de verdade. Primeiro com o que quer que poderia ter acontecido. Depois porque prometi que não ia brigar e ele não acreditou.
- Tô falando que não vou brigar. Você não confia em mim?
- Não!
Falei que ia perguntar à pró. Fiz suposições.
- Você brigou com alguém? Você quebrou alguma coisa? Foi no banheiro com Lolô? (curiosidades...). Pegou alguma coisa sem pedir? Você falou besteira?
- Não. Não. Não. - Não para tudo, sem ao menos vacilar e se trair com o olhar.
No domingo, disse que iria perguntar a pró e deixamos o assunto de lado. Na segunda-feira, a pró ficou doente e não foi pra escola. Na terça, também.
Na hora de vestir o pijama, do nada, Cacá me fala:
- Mãe, agora vou te contar o que aconteceu na escola.
Sentei na cama, olhei pra ele, interessada. No fundo, eu estava com medo de fazer alguma coisa errada e estragar tudo no momento sinceridade.
- Fala, loiro.
- Eu mostrei a língua pra Geovana. - Sabe aquela carinha de quem tá esperando a bronca? Pois é...
- Ué, filho... - Eu não sabia se ria ou se ficava séria. - Porque você mostrou a língua pra Geovana? - Caio nem faz isso em casa!
- Porque ela mostrou a língua, tchan, tchan, tchan e tchan, pra todo mundo da mesa - E apontou com o dedinho a posição que os colegas estariam na mesa. - Ela deu língua pra todo mundo e eu dei língua pra ela. Mas a pró só viu eu!
Na boa, eu ri. Tadinho do meu filho...
- Não faça mais isso, tá, filho?

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